sábado, dezembro 22, 2007

A CP desencoraja o uso da ferrovia

"Moderna" Composição que liga o Porto a Vigo

Em recente viagem a Vigo, a propósito da exposição de obras de Picasso, na Fundação Barrié, escolhi ir de comboio. Sabia de antemão que a viagem duraria 3 horas - uma eternidade se pensarmos que, de carro, pouco mais demoraria que 1 hora. Ainda assim, não é justo arrastar mais de 1 tonelada de ferro para me trasnportar, quando há alternativas.


Sem atrasos, a ida correu bem, não fora o caso de os assentos serem extremamente desconfortáveis e completamente desadequados a grandes viagens. O mesmo não se pode dizer da vinda, tendo o desconforto sido o mesmo, mas com a agravante de o comboio se ter atrasado e os passageiros terem sido obrigados a mudar de composição (para uma ainda mais desconfortável e antiga) em Nine, Famalicão. Escusado será dizer que nenhum dos comboios era movido a electricidade, mas antes a gasóleo. Também não é difícil adivinhar que, tendo isto acontecido a um Domingo, o comboio estava longe de estar lotado.


Eu, se fosse administrador da CP, responsável pela área do Turismo, em Portugal, ou simples governante, em geral, preocupava-me. Mas como todos estes assentaram praça em Lisboa, há muito, e apenas analisam o fenómeno por mapas e gráficos, não conseguirão perceber que a informação lhes chega inquinada - por erros crassos das suas próprias políticas, há cada vez menos utilizadores da ferrovia, com as respectivas perdas económicas e ecológicas.

Já não penso que o TGV Porto-Vigo seja essencial. Agora, é fundamental electrificar e duplicar a linha e dotá-la de composições mais rápidas e confortáveis. Isto sem esquecer, como é óbvio, a fulcral passagem da linha pelo aeroporto do Porto.


Desse dia de má memória para a minha relação com a administração da CP (who cares?), fica a recordação das obras vistas de Picasso. Em Vigo, podem ver-se algumas naturezas mortas, ou bodegóns, como dizem em Espanha, algumas delas expostas ao público pela primeira vez. Para os mais afoitos, e no contexto da mesma mostra, podem ver-se cerca de 40 retratos femininos nas instalações da Fundação Barrié, na Corunha.


Uma última nota para a chegada à estação de Vigo. Senti-me como deveriam sentir-se os espanhóis quando visitavam as feiras francas da raia nos anos 40, logo após a sua Guerra Civil. Destroçados pelo conflito, eram bem mais pobres que os portugueses, usando roupas miseráveis, alpercatas e os carros, quando os havia, serviam para provocar a chacota de quem, deste lado, os via. Desta vez era eu, a chegar numa chocolateira velha e a estacionar ao lado dos modernos comboios da Renfe...

2 comentários:

D. disse...

é verdade, esses comboios são mesmo tristes, mas conseguem ser melhores que aqueles que vão para a Régua, esses sim são muito mais antigos.

Marco disse...

Pois. À vinda, em Nine, troquei para um desses...