sexta-feira, novembro 12, 2004

Uma Janela Aberta

Yasser Arafat morreu hoje, no dia em que escrevo este texto.
Antes da sua morte, viveu-se uma semana completamente disparatada no que toca ao tratamento que a comunicação social deu ao seu estado de saúde, enquanto agoniava no Hospital Militar de Percy, Paris. Adiantaram várias vezes, de forma precipitada, a sua morte chegando mesmo a provocar a primeira gaffe deste mandato do Presidente Norte-americano que, antes uma semana de Arafat morrer já lhe estava a "encomendar a alma".
O director-adjunto do JN, em declarações à televisão, vinha justificando as notícias macabramente contraditórias alegando que choviam telexes e telegramas nas redacções, muitas vezes de palestinianos desconhecidos, relatando, uns que havia morrido, outros que ia sobrevivendo. Pergunto eu: não será dever maior do jornalista ou do editor filtrar a informação e escolher as fontes dos seus textos com critério?

Opinar sobre como vai ser depois da morte de alguém soa sempre a trágico, quase a desrespeito pela alma do falecido. Ainda assim, penso que é quase inevitável que isso aconteça neste caso. O líder palestiniano congregava uma enorme panóplia de ódios e fascínios perfeitamente antagónicos que desaparecerão com ele.

A Palestina vê agora abrir-se uma nova oportunidade. Durante anos a fio, os israelitas negaram-se a negociar a criação de um Estado Palestiniano alegando a inexistência de um interlocutor à altura – os israelitas, pura e simplesmente, não confiavam em Yasser Arafat. É claro que este lhes dava motivos: o facto de ter feito tábua rasa de vários acordos de paz, de utilizar as conferências de imprensa para, em inglês, apelar à paz (para comunicação social internacional ver) e, logo a seguir, em árabe, instigar os seus seguidores à violência, constituem razões para causar desconfianças junto dos israelitas.

Estes dias vão ser cruciais para o futuro no Médio Oriente e em todo o mundo árabe. Havendo cuidado na escolha do sucessor para presidir à Autoridade Palestiniana, poder-se-á estar a proporcionar a paz israelo-árabe. E esta tão ansiada paz terá que passar, como é lógico, pela criação e reconhecimento do Estado da Palestina. Isto mesmo já veio dizer George W. Bush que será, sem dúvida, um intermediário fundamental neste processo.
Preocupantes são os sinais já dados pelos membros das Brigadas al-Aqsa. Esses comandos suicidas reagiram à morte de Arafat passeando-se por entre as ruas apinhadas de gente que lamentava a morte do seu líder num claro sinal de ameaça, chegando mesmo a disparar alguns tiros para o ar. Irão eles redobrar a violência?

Neste período, será preciso agir com pinças. De um lado e de outro, haverá radicais que tudo farão para impedir que a paz seja alcançada. Mas também é nestas épocas e perante desafios assim que se revelam os grandes homens, os grandes estadistas.Estou céptico quanto ao que fará Ariel Sharon – a sua figura não me inspira confiança. E nem sequer sei, ainda, quem será o sucessor de Arafat. Tenho é uma grande fé no papel crucial que a diplomacia mundial terá. Os EUA, a União Europeia e a Liga Árabe terão que ser firmes: como em qualquer outra negociação, ambas as partes devem ceder. É preciso convencer israelitas e palestinianos a tal. Para seu próprio bem.

quarta-feira, novembro 10, 2004

Arafat vive?

É escandaloso o que tem acontecido nos últimos dias face ao estado de saúde de Yasser Arafat. Ao que se sabe, chovem telexes e telegramas nas redacções dos jornais e televisões com notícias contraditórias sobre a vida do líder palestiniano. Que o seu estado clínico lhe é desfavorável, já não restam dúvidas a ninguém. Agora, por que não fazem os órgãos de comunicação social uma verdadeira triagem da informação que lhes chega? Até porque grande parte desses telegramas, segundo o director-adjunto do JN, provêm de palestinianos desconhecidos.

A Continuação das Tropas

A pedido das autoridades iraquianas, o Governo português está a ponderar prolongar o prazo de permanência da GNR no Iraque até Janeiro de 2005, altura em que estão previstas as primeiras eleições livres. Os partidos da oposição logo saíram a terreiro para contestar a eventual manutenção das tropas.
O que é facto é que Portugal tem o dever de contribuir para o alcançar da paz social no Iraque. Como país civilizado que somos não podemos fingir que não ouvimos o apelo do Primeiro-Ministro iraquiano e de parte da comunidade internacional.
A continuação da GNR naquele país é importante para o seu futuro democrático. Então, que lá continuem a combater a minoria terrorista que vem assassinando centenas de civis e militares com o único intuito de impedirem a transição do Iraque para o país democrático que deve ser.

quinta-feira, novembro 04, 2004

Arafat, o fim?

Rumores de que Arafat teria morrido ocorreram esta tarde e até suscitaram um "paz à sua alma" de Bush (a sua primeira gaffe?). Todo o mundo árabe e não só está em suspenso. Ninguém sabe ao certo o que poderá significar a morte de Arafat para o futuro de palestinianos e israelitas.Prefiro pensar que ela constituirá uma oportunidade. Quero mesmo acreditar que Ariel Sharon vai aproveitar esta fase de transição para, também ele, ceder na inevitável criação e legitimação do estado Palestiniano.

W. Bush again

Pois bem. De nada valeram as tomadas públicas de posição favorável a Kerry que centenas de jornais e artistas americanos fizeram. Na altura de votar, os eleitores americanos, que reputo de tão responsáveis como quaisquer outros, escolheram Bush. Muita tinta se gastou e gasta numa tentativa, quanto a mim inútil, de se encontrar razões místicas, esotéricas que possam ter levado a tal resultado.
Quanto a mim a questão é simples: John Kerry nunca conseguiu afirmar-se como alternativa válida a Bush. Porque votou a favor da intervenção no Iraque, viu-se amarrado nessa matéria e nunca conseguiu explorar de forma efectiva as suas diferenças em relação ao candidato republicano. Desta vez, Bush até conseguiu a maioria do voto popular (por uma margem de 3.5 milhões de votos) o que não levanta dúvidas. E com este resultado há toda uma facção de jornalistas e opinion makers que terão que guardar as respectivas violas. E refiro-me àqueles que, em relação aos debates entre os candidatos, não se coibiam de afirmar sempre que Kerry era o claro vencedor quando, na realidade, não o era. A resposta final, e a única válida, foi dada pelos americanos na passada Terça. Para o bem e para o mal, teremos Bush por mais quatro anos.

O que ando a ler III

Um Quarto com Vista de Edward Morgan Foster

Era agradável também abrir as janelas de par em par, apertando os dedos em fixações pouco habituais, debruçando-se ao sol com belas colinas e árvores e igrejas de mármore em frente e, em baixo, o Arno, gorgolejando contra o muro da estrada.