quinta-feira, novembro 10, 2005

O Norte Desprezado

Não quero de forma nenhuma que o artigo deste mês seja o exercício de qualquer sentimento de bairrismo. Antes quero expressar a minha voz indignada ante a sobranceria e a arrogância com que a região do Porto e do Norte de Portugal vêm a ser tratados pelo Governo.
A história começa desde logo pelo PIDDAC para 2006. Nas grandes opções do plano, o Norte de Portugal fica a perder, quer em termos absolutos, quer em termos comparativos, contrariando a tendência justa que se vinha a verificar nos anos anteriores.

Mas, o PIDDAC é só a confirmação do desprezo com que este Governo trata o Norte. Senão vejamos: a primeira coisa que Isabel Pires de Lima, Ministra da Cultura fez quando tomou posse foi embargar a obra do Túnel de Ceuta, no Porto. Estando mesmo agora a tentar fechar o buraco que sai em frente ao Museu Soares dos Reis, lesando o Estado e os contribuintes em milhares de euros. Nesse caso, tudo não passa de uma afronta ao Presidente da Câmara, pois ainda ninguém percebeu qual o impacto adicional é que o túnel terá sobre o Museu – antes, havia quatro faixas a circularem na sua frente, agora, serão três sendo uma delas desnivelada, ou seja, causando um impacto ainda menor.

Quanto ao Ministro Mário Lino, e este é que insuspeito no seu ímpeto centralizador e na sua boçalidade, entrou de rompão: anunciou que as linhas a construir do Metro do Porto teriam que ser reavaliadas de forma a aferir a sua real necessidade. E isto, porque as restantes já estavam construídas, senão parava tudo. Depois, o bom senso lá foi imperando e, ao que parece, chegou-se à conclusão de que as linhas são mesmo necessárias.

Contudo, e nas últimas semanas, assistimos ao fim da picada. Na mesma semana em que Mário Lino anunciou o arranque da construção do novo aeroporto de Lisboa, na Ota, anunciou também que o TGV, em Portugal se iria resumir a 2 linhas (Lisboa-Madrid e Lisboa-Porto), ficando de fora as ligações Porto-Vigo, Aveiro-Salamanca e a que ligaria o sul de Portugal à Andaluzia.
Este Governo, contrariando o que já havia sido firmado entre Portugal e Espanha, furou o acordo e atirou a prioridade antes estabelecida para o esquecimento. A linha Porto-Vigo, antes considerada como primeira prioridade estratégica, será agora preterida para que se façam as duas ligações a Lisboa, nesta lógica centralizadora que não acontece ao arrepio da construção da Ota. Este Governo está apostado numa lógica de impedir o inevitável: que o Norte de Portugal e a Galiza sejam uma euroregião próspera e com elevado potencial de crescimento. De forma artificial, querem aumentar o tráfego do aeroporto de Lisboa e isso deveria ser investigado. Por que é urgente a Ota quando nenhum estudo revela que a Portela esteja, a médio ou longo prazo, desfasada das suas reais necessidades? Por que é que ninguém revela que o aeroporto Francisco Sá Carneiro, esse sim, continua a crescer e a ganhar importância no contexto do nosso país e da Galiza?

Este Governo quer enfraquecer o Norte e nem sequer disfarça. Cabe-nos a nós, cidadãos lesados, levantar a nossa voz e impedir que o investimento público se concentre num raio de 50km à volta de Lisboa. Não podemos permitir que se acentuem as assimetrias regionais, fazendo com que Portugal seja mais injusto socialmente.

Investigue-se o negócio da Ota e perceba-se a sua “urgência”. Ouçamos o que dizem as autoridades da Galiza relativamente à ligação Porto-Vigo em TGV. E, finalmente, impeçamos que o túnel de Ceuta se feche patrocinado pela prepotência de uma qualquer Ministra.

quarta-feira, novembro 09, 2005

Guerra Civil

O que se está a passar em França e, agora, nos países vizinhos com os jovens a rebelarem-se configura algo que entendo ser uma Guerra Civil.
Não vou chamar aos delinquentes escumalha ou mesmo escória. Eles são delinquentes e ponto final. Sob a atenção mediática do mundo, têm incendiado mais do que é costume mas, não há noite em que não se queimem carros nos subúrbios de Paris.
O Governo francês reagiu mal, numa primeira instância, quando se precipitou a combater a raíz do problema - a violência foi crescendo e alastrou-se a outras cidades e países. Só agora adoptou medidas extraordinárias de segurança para precaver os bens da comunidade que se impunham desde logo.
Fica para mais tarde uma análise à raíz do problema.

quinta-feira, novembro 03, 2005

Sentido de Estado

Na pré-campanha para as autárquicas, algo está a ser surpreendente: Mário Soares, desesperado como nunca, adoptou o seu pior estilo trauliteiro e vai daí, sem modas, toca a desancar em Cavaco Silva, provocando-o e tentando baixar o nível. Cavaco, sereno, não responde a nenhuma provocação. Antes tem dado uma lição de estadismo a quem já ocupou o Palácio de Belém por 10 anos.
Mário Soares, hoje, não é mais do que um velho rabujento que, na sua infantilidade senil, não consegue deixar de embirrar com quem um dia lhe fez frente. Mas que se vá habituando. A sua birra vai originar um par de tabefes que os portugueses lhe vão dar lá para Janeiro.

“Impoluto e Incorruptível”

É Jorge Coelho no seu melhor. Os outros, mesmo os amigos socialistas não, mas ele sim – ele é “impoluto e incorruptível”. Aliás, ele nem se lembra de quem é o tal construtor civil; nem se lembra que esse dito construtor negociou com o Governo a instalação de uma Loja do Cidadão num dos seus prédios; prédio esse, em que o ex-governante comprou um andar – será que se lembra?
A PJ efectuou buscas em casa de Jorge Coelho. Mas a PGR apressou-se a “esclarecer” que não impende sobre o ex-Ministro qualquer processo-crime. Estão a investigar um caso de corrupção em que o alegado corruptor é Américo Santo. Mas, havendo um corruptor não haverá um corrompido?