terça-feira, fevereiro 10, 2004

BTT

O exercício físico está definitivamente na moda. E ainda bem que assim é pois significa que Portugal está a importar os bons hábitos de vida dos países mais desenvolvidos e que se está a apostar nos cuidados de saúde que se encontram ao alcance de todos. Nos países nórdicos, a prática de exercício físico é vista como algo quase obrigatório e válido para toda a gente, independentemente da idade.
E há muitas formas de nos mantermos em forma. Desde jogar futebol até praticar artes marciais, há um enorme manancial de modalidades ao nosso dispor. Eu escolhi, já lá vão 10 anos, praticar BTT (Bicicleta de Todo-o-Terreno), agora com o nome pomposo de Cross Country.
Desde então, tenho passado intensos momentos da minha vida montado na minha bicicleta. Sensações de vitória por conseguir fazer uma subida apetecível ou uma descida infernal, contemplação de paisagens só possíveis de alcançar fora do asfalto, momentos de salutar convívio e, às vezes, de alguma competição entre todos os betetistas e também os momentos de dor: dores musculares, quando já estou a abusar das minhas capacidades, e outras, quando as minhas capacidades não se revelaram suficientes para me manter em cima da bicicleta, o que acaba por se traduzir nuns arranhões e algumas distensões.
O mais negativo que encontro nesta modalidade deve-se a factores que lhe são externos. Desde logo, os praticantes de desportos motorizados todo-o-terreno. Não conseguem compreender que os trilhos podem ser utilizados de forma a que toda a gente que por eles circula o faça em segurança; não conseguem sequer compreender a regra tácita das prioridades que nos diz que, primeiro se respeitam os peões, depois as bicicletas e só depois é que vêm os veículos motorizados. Mais grave: nunca quis que me deixassem passar à frente. Sempre que avisto um grupo de motoqueiros, faço questão de libertar o trilho o mais possível. Como agradecimento, grande parte deles, ao passar, coloca o pneu traseiro na minha direcção e acelera numa tentativa de me atingir com terra e pedras. Eles também gostam de organizar umas provas em circuito o que seria uma excelente prática não fosse o facto de deixarem os trilhos num estado lastimável e de se esquecerem de retirar as marcações de plástico que usaram na delimitação do percurso.
Outro dos grandes perigos vem da parte dos caçadores. A fome de atirar é tão grande que, às vezes, vai chumbo para tudo o que mexe. Exemplificando, já vi um caçador a atirar em frente e a baixa altura, na direcção do caminho para, supostamente, um animal; quando lá chegámos, percebemos que, por pouco, não havia atingido um outro caçador. Numa outra ocasião, um caçador frustrado por se aperceber que o que se mexia na sua direcção não era um bando de pássaros a abater mas, antes um grupo de betetistas “avisou-nos” que devíamos ter mais cuidado – ora vejam só, nós é que deveríamos ser mais cuidadosos!?
O que acima está escrito não vincula todos os motoqueiros, nem todos os caçadores, nem todos os betetistas. Em todas as modalidades há quem respeite e quem não o faça. O padrão é este mas isso não invalida que eu já tenha presenciado situações lamentáveis por parte dos meus colegas e louváveis por parte dos motoqueiros. Continuo a acreditar que é possível que todos os que utilizam os trilhos o façam da forma mais harmoniosa e segura. Para que todos saiamos a ganhar.

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