segunda-feira, outubro 17, 2005

Sir Mourinho

Que mais se pode dizer do treinador-fenómeno José Mourinho? De “tradutor de Bobby Robson”, nas palavras de Pinto da Costa, até ao furacão Chelsea vai uma história de tremendo sucesso cujo expoente máximo foram dois anos ao serviço do FC Porto, onde, além do campeonato, ganhou uma Taça UEFA e uma Liga dos Campeões, entre outros troféus.

O homem de Setúbal aprendeu com os melhores, mas o seu segredo não residirá na coabitação com grandes treinadores. Ao que se percebe, de longe, o seu método de trabalho reside na planificação, ao milímetro, de todas as varáveis de jogo. Ele tenta reduzir para zero os imponderáveis. Passa tempos infinitos a analisar os adversários e a criar os antídotos para os neutralizar. Nada é deixado ao acaso, nem o perfil psicológico dos jogadores que defrontam o Chelsea.

Na própria equipa é feito um trabalho minucioso, quase picuinhas. Treinam-se os cantos, os livres, as reposições da bola em campo, tudo… E o resultado vê-se a cada fim-de-semana. Tudo parece fácil na hora de marcar golos. Mas, essa facilidade aparece com horas de planeamento das jogadas, ditas de laboratório, e depois de muito treino.

Ao ver os “blues” em campo, vê-se uma máquina plena de táctica e de sentido de jogo. É raro ver-se um jogador desorientado. Cada um reconhece o seu papel e a sua função passa, muitas vezes, por ajudar os colegas. A máquina falha pouco, muito pouco, dizem os adversários.
Na presente edição da Liga Inglesa, os londrinos já lideram com grande avanço. Em nove jogos, outras tantas vitórias. E a supremacia tem sido tão grande que uma empresa de apostas resolveu cometer uma excentricidade: a todos quantos apostaram no Chelsea campeão, foram pagos os prémios como se ele já o fosse. Isto é verdade e aconteceu à 8ª jornada. Parece que já ninguém duvida do talento do “modesto Mourinho”, como ironicamente é tratado pela imprensa britânica.

É claro que o português continua a ter críticos. À falta de outros argumentos, agora dizem que o futebol do Chelsea é chato. Parafraseando um comentador da SportTV no final do jogo com o Bolton “realmente, para os adversários deve ser chato: o Chelsea ganha sempre…”
Mas, mesmo em terras de sua Majestade, já há pouco quem duvide do talento e do génio de Mourinho. O domínio do futebol inglês é total e já está a acontecer com a selecção britânica aquilo que aconteceu com a portuguesa há dois anos: existe já uma espinha dorsal vinda directamente do Chelsea com John Terry, Frank Lampard e Joe Cole. Será isto o início de mais uma etapa na carreira do português? É conhecida a sua ambição de se tornar seleccionador da Inglaterra. Quem o pode recusar?

Nos tempos em que treinava o FC Porto, os nossos intelectuais da bola auguravam-lhe fraca sorte em campeonatos mais competitivos. Vemos, agora, que aconteceu precisamente o contrário. Bateu todos os recordes de invencibilidade em Inglaterra e ninguém sabe como vencê-lo. Em Portugal, já não tem críticos, o que mostra bem que o não queriam atacar mas antes ao clube que treinava. E em Inglaterra é só uma questão de tempo até que todos se rendam.

Está a ser criado um mito. Bem poderão dizer que o segredo é a questão psicológica e a mentalização vencedora de cada jogador. Por mim, acho que tudo passa por um profissionalismo nunca visto no futebol e uma abordagem matemática/económica de minimização das variáveis imponderáveis do jogo e da maximização dos activos (competência técnica e táctica de cada jogador).Mourinho, sem o ser, já é um sir.

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