Um gesto obsceno chocou os portugueses no passado dia 7 de Dezembro. Decorria o jogo entre Benfica e Manchester United quando Cristiano Ronaldo, português (!?), é substituído, reagindo da pior forma aos assobios e apupos vindos do público – exibiu o seu dedo médio esticado completando depois a cortesia com a tão lusa cuspidela dirigindo-se aos adeptos benfiquistas.
Este triste episódio, que está longe de ser inédito, deve ter o condão, ao menos, de nos fazer reflectir. O que é que leva 64.000 portugueses a vaiarem um seu compatriota apenas porque ele joga num clube estrangeiro? Não será esta uma forma de xenofobia? O comportamento dos adeptos, em nada desculpável pela tão propalada “paixão futebolística”, é um caso recorrente em Portugal. Nós devíamos observar o que se passa noutros países e fazer como se faz, por exemplo, aqui ao lado no Santiago Barnabéu: quando o adversário joga bem, é aplaudido. Quem viu o último Real Madrid – Barcelona pôde observar como os catalães e Ronaldinho Gaúcho, especialmente, foram aplaudidos. Isso, independentemente de os locais terem perdido por três a zero e de o Barcelona ser o eterno rival dos madrilenos. É a este espírito que eu chamo “paixão futebolística” e gostava, sinceramente que nós, portugueses, um dia pudéssemos ser assim.
Mas, voltando a Cristiano Ronaldo, por que encarou ele o jogo como sendo a partida da sua vida? Entrou nervoso em campo e esteve todo o tempo em sub-rendimento chegando mesmo a ser quezilento e indisciplinado – deveria ter sido expulso logo após ter sido admoestado com o cartão amarelo. Ainda viria a ter uma grande oportunidade para complicar as contas ao Benfica, mas desperdiçou-a, para ser coerente com a sua exibição.
Cristiano Ronaldo é um jogador fora-de-série. É daqueles predestinados que, se tiverem juízo, só podem alcançar o sucesso. O facto de ser jovem não lhe desculpa as asneiras como esta. Terá o jogador já esquecido a forma como os portugueses, todos, o defenderam aquando da acusação torpe de que recentemente foi alvo? Durante aqueles difíceis dias, não houve ninguém com quem eu tivesse falado que não acreditasse piamente na inocência do português e, consequentemente, na má fé das denunciantes. Mesmo os nossos jornalistas, esquecendo aqui e ali os deveres de objectividade e isenção a que estão sujeitos, iam “absolvendo” o português muito antes de a Scotland Yard o vir fazer.
A sua juventude será absolutamente decisiva, mas antes porque lhe permitirá usufrui de tempo para se emendar. Ninguém, por mais genial que seja, tem o direito de se comportar em público de forma tão reprovável, sob pena de influenciar negativamente aqueles para quem deveria ser exemplo a seguir.
Cristiano Ronaldo é já um grande jogador. Mas tem um longo caminho a percorrer para que a sua dimensão humana iguale o talento que demonstra nos relvados.
Falando agora no aspecto desportivo do jogo, todos temos que reconhecer que o Benfica obrigou Sir Alex Ferguson a engolir mais um enorme sapo lusitano. Há dois anos, a propósito da vinda dos Red Devils ao Dragão, lembrou-se esse Sir de dizer que o nosso campeonato era demasiado fraco e que conseguir uma vitória era tão fácil como ir “comprar leite ao supermercado”. Pois bem, desde essas tristes observações fez quatro jogos contra equipas portuguesas. Perdeu os dois cá e empatou os outros dois em Manchester. Eis a prova visível de que, às vezes, mais vale estar calado…
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