Yasser Arafat morreu hoje, no dia em que escrevo este texto.
Antes da sua morte, viveu-se uma semana completamente disparatada no que toca ao tratamento que a comunicação social deu ao seu estado de saúde, enquanto agoniava no Hospital Militar de Percy, Paris. Adiantaram várias vezes, de forma precipitada, a sua morte chegando mesmo a provocar a primeira gaffe deste mandato do Presidente Norte-americano que, antes uma semana de Arafat morrer já lhe estava a "encomendar a alma".
O director-adjunto do JN, em declarações à televisão, vinha justificando as notícias macabramente contraditórias alegando que choviam telexes e telegramas nas redacções, muitas vezes de palestinianos desconhecidos, relatando, uns que havia morrido, outros que ia sobrevivendo. Pergunto eu: não será dever maior do jornalista ou do editor filtrar a informação e escolher as fontes dos seus textos com critério?
Opinar sobre como vai ser depois da morte de alguém soa sempre a trágico, quase a desrespeito pela alma do falecido. Ainda assim, penso que é quase inevitável que isso aconteça neste caso. O líder palestiniano congregava uma enorme panóplia de ódios e fascínios perfeitamente antagónicos que desaparecerão com ele.
A Palestina vê agora abrir-se uma nova oportunidade. Durante anos a fio, os israelitas negaram-se a negociar a criação de um Estado Palestiniano alegando a inexistência de um interlocutor à altura – os israelitas, pura e simplesmente, não confiavam em Yasser Arafat. É claro que este lhes dava motivos: o facto de ter feito tábua rasa de vários acordos de paz, de utilizar as conferências de imprensa para, em inglês, apelar à paz (para comunicação social internacional ver) e, logo a seguir, em árabe, instigar os seus seguidores à violência, constituem razões para causar desconfianças junto dos israelitas.
Estes dias vão ser cruciais para o futuro no Médio Oriente e em todo o mundo árabe. Havendo cuidado na escolha do sucessor para presidir à Autoridade Palestiniana, poder-se-á estar a proporcionar a paz israelo-árabe. E esta tão ansiada paz terá que passar, como é lógico, pela criação e reconhecimento do Estado da Palestina. Isto mesmo já veio dizer George W. Bush que será, sem dúvida, um intermediário fundamental neste processo.
Preocupantes são os sinais já dados pelos membros das Brigadas al-Aqsa. Esses comandos suicidas reagiram à morte de Arafat passeando-se por entre as ruas apinhadas de gente que lamentava a morte do seu líder num claro sinal de ameaça, chegando mesmo a disparar alguns tiros para o ar. Irão eles redobrar a violência?
Neste período, será preciso agir com pinças. De um lado e de outro, haverá radicais que tudo farão para impedir que a paz seja alcançada. Mas também é nestas épocas e perante desafios assim que se revelam os grandes homens, os grandes estadistas.Estou céptico quanto ao que fará Ariel Sharon – a sua figura não me inspira confiança. E nem sequer sei, ainda, quem será o sucessor de Arafat. Tenho é uma grande fé no papel crucial que a diplomacia mundial terá. Os EUA, a União Europeia e a Liga Árabe terão que ser firmes: como em qualquer outra negociação, ambas as partes devem ceder. É preciso convencer israelitas e palestinianos a tal. Para seu próprio bem.
1 comentário:
Não serão já alturas de actualizares isto!
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